Eu comecei a meditar no meu último ano da faculdade, depois de participar de uma aula de meditação oferecida por alunos de Sri Chinmoy.
Até aquele momento, eu tinha uma vida muito confortável. No entanto, eu me sentia insatisfeito e sem propósito.
Eu havia experimentado todas as coisas que dão felicidade temporária às pessoas, e mesmo assim não me sentia feliz.
Com meus estudos chegando ao fim, eu enfrentava a possibilidade de entrar no vazio.
Com a minha juventude ficando para trás, restava apenas um sentimento de vazio e até mesmo um pavor.
Contudo, dentro de mim, eu sabia que deveria existir algo mais, algo de consciência mais elevada e com propósito.
Existiram alguns breves mas inesquecíveis momentos na minha vida, nos quais eu senti um profundo senso de paz, alegria e satisfação, tudo envolvido em um enorme senso de gratidão. Foram momentos em que a minha consciência se expandiu por um curto período, e eu realmente me senti no paraíso na terra. No entanto, eles ocorriam inesperadamente, e acabavam tão rapidamente quanto começavam.
Eu nunca conseguia entender quais eram os gatilhos para que aquelas sensações viessem a tona ou como fazer para senti-las novamente.
Foi apenas quando meus estudos estavam acabando, e a perspectiva de encontrar um trabalho – que provavelmente não seria um que eu realmente gostasse – se aproximava, que eu comecei a questionar se haveria algo que eu pudesse buscar além das experiências comuns da vida. Eu lembrei daqueles momentos de alegria temporária, e isso me remeteu ao que eu havia lido e ouvido sobre meditação.
A meditação aparentava não somente proporcionar essas sensações, como também ser o método pelo qual qualquer pessoa poderia invocá-las. Eu lembrei de um livro que havia lido no colégio: Siddhartha, por Herman Hesse. Nele, a jornada de Siddhartha ao longo da vida finalmente apontou para a meditação como um caminho para a felicidade e salvação duradouras. Eu comecei a me perguntar se isso era o que eu estava realmente buscando, no fundo do meu ser.
Eu vi uma propaganda de um curso de meditação oferecido por um homem que praticava sozinho. Ele transmitia uma sensação de paz, mas eu não senti nada durante a aula que ele conduziu. Mesmo assim, minha vontade de aprender me fez segui-lo até seu carro. Eu entrei no carro com ele e, enquanto ele dirigia, o enchi de perguntas. Por baixo do que parecia ser um comportamento pacífico, percebi que suas mãos estavam tremendo com um nervosismo implícito. Eu percebi que ele estava apenas atuando e que não havia nada que eu pudesse aprender com ele. Assim, sai do carro e me encontrei de volta ao início da minha jornada.
De volta à universidade, participei de aulas de filosofia buscando o sentido da vida, e mesmo assim não consegui encontrar. Lembro de alguns personagens históricos interessantes que tiveram experiências de contemplação e momentos de clareza, mas novamente, nada era mencionado sobre o que fazer para ter aquelas experiências além de intensa busca e sofrimento.
Nessa época, estávamos estudando um livro depressivo de Sigmund Freud, e eu notei no prefacio que Freud tinha um amigo que visitara a Índia, e lá encontrara um mestre espiritual e que, através da meditação, ele havia vivenciado um sentimento “oceânico” de unicidade e uma “sensação de eternidade”. Isto me chamou a atenção, porém não iríamos nos aprofundar nesse estudo. Em vez disso, iríamos focar em Freud e em suas teorias nada inspiradoras. Foi então que eu percebi que a minha educação não estava me fornecendo as respostas para as mais profundas e importantes perguntas da minha vida. Eu senti que todas as portas haviam se fechado e que eu estava fadado a uma vida tediosa e mecânica.
Depois da aula eu atravessei o corredor e vi um quadro de avisos com um papel dourado pregado. O papel dizia: “Alegria e felicidade: frequentemente procuradas, raramente encontradas”. Logo abaixo dessa frase, estava a foto de Sri Chinmoy com um amplo sorriso de contentação – o sorriso de alguém que estava completamente em paz consigo mesmo. O pequeno texto descrevia um curso de meditação gratuito que os estudantes de Sri Chinmoy ofereciam. E também descrevia como Sri Chinmoy conduzia meditações nas Nações Unidas e era atleta, artista, poeta e músico. Todas essas palavras soaram como música para mim: aqui está um homem que não só encontrou a iluminação, como também a expressa de tantas maneiras diferentes. Ele deve conhecer meditação extremamente bem e ele também ensina aos outros o que sabe. Eis aqui a resposta para as minhas orações silenciosas.
Eu não percebi naquele momento, mas aquele era um chamado para o embarque em uma jornada espiritual. Era também o meu “ticket para a graduação”: da saída da universidade direto para uma escola mais significativa e elevada.
Quando o dia da aula de meditação chegou, eu fui com um amigo que também se interessava por coisas místicas. Era um sábado, então a aula começou no meio da manhã e incluía um almoço gratuito. Há um ditado popular que diz, “não existe almoço grátis”, e por isso ainda havia algum ceticismo espreitando em minha mente.
Quando entramos na sala e olhamos para a frente, eu vi uma foto de Sri Chinmoy que aparentava ser de alguma forma sobrenatural, em preto branco, dele em transe. Parte de mim queria dar meia volta e sair. Mas a outra parte, fortemente me encorajou a ficar. Mais tarde eu percebi que foi uma das primeiras vezes que eu notei duas “vozes” ou “forças” dentro de mim que por vezes entravam em desacordo. Claro, depois eu reconheceria isso como minha consciência e essa experiência assumiu um novo significado e importância.
Nós nos sentamos e a aula começou. Um dos alunos de Sri Chinmoy deu as boas vindas a todos e se apresentou com um nome indiano, o qual ele disse ter recebido de Sri Chinmoy. Ele explicou como, em alguns anos, um Mestre Espiritual se torna íntimo de seus estudantes e das “qualidades de suas almas”, e que o Mestre poderia dar àquela pessoa um nome que refletisse essas qualidades. O instrutor, então, começou a descrever a sua própria jornada espiritual e como ela o levou a Sri Chinmoy.
Ele compartilhou como Sri Chinmoy descreveu as diferentes partes do nosso ser, com a nossa alma sendo a parte mais elevada e luminosa de nós, e que reside em nosso coração espiritual. E que este coração espiritual fica na mesma área do nosso coração físico, mas em um nível de energia psíquica mais profundo. Em seguida ele falou sobre a nossa mente, que encobre todas as realidades do nosso coração e alma com pensamentos e sentimentos que vem da próxima parte do nosso ser, o vital.
Eu nunca havia ouvido sobre vital antes, mas eu me lembrei de como, nas artes marciais, o “chi” é descrito como a energia visceral. Ele era o motor da nossa energia e paixões, e com frequência agia como um cavalo selvagem que precisa ser domado.
A nossa parte mais inferior era o nosso corpo, que tende ao estado de letargia, mas que poderia ser energizado, negativa ou positivamente, para fazer o bem ou o mal. Sri Chinmoy disse que estando em harmonia com a alma, não apenas alguém pode fazer coisas boas em sua vida, como a energia poderia ser ilimitada. Quando eu ouvi que Sri Chinmoy havia corrido 22 maratonas, eu percebi que ele não estava apenas descrevendo o que era possível, mas que também estava demostrando que poderia ser feito. E tudo dependia da meditação.
Depois dessa explicação, o instrutor nos guiou para o nosso primeiro exercício de meditação. Todo mundo parecia apreciar o exercício, com exceção de mim. Pela primeira vez eu percebi como a minha mente era hiperativa e que eu tinha pouco controle sobre ela. Com todo o meu esforço, eu não consegui fazer com que ela se acalmasse. O instrutor então disse que, da mesma forma que cada pessoa tem preferência por um sabor de sorvete, cada um de nós ressoa com tipos de meditação distintos.
Então ele e outros instrutores fizeram turnos conduzindo diferentes tipos de meditação. No entanto, ficava cada vez mais difícil para mim. Eu não conseguia aquietar minha mente e a cada exercício que terminava, as outras pessoas presentes falavam quão bem elas haviam se sentido. Isso fez com que eu me sentisse mais frustrado e preocupado de que, talvez, eu apenas não tivesse a capacidade de meditar.
Foi durante a última meditação, quando todos entoamos AUM juntos, que eu finalmente senti algo se expandindo em minha consciência. Era como se uma porta do universo estivesse se abrindo para mim, apenas o suficiente para que eu sentisse algo além da minha singular existência humana. Não era necessariamente tudo paz e alegria, mas era o suficiente para elevar a minha consciência e eu senti algo místico dentro de mim. Eu finalmente fui capaz de invocar o sentimento que eu estava buscando desde o início e foi aí que eu soube que a minha jornada espiritual havia começado.
Continua…